Com a correria do dia a dia, nem sempre é fácil manter…
 
Quando o assunto é treino, existe uma linha tênue entre dedicação e excesso. Muita gente acredita que “quanto mais, melhor”, mas o corpo humano tem limites — e ignorá-los pode trazer consequências sérias.
O nome disso é overtraining, ou síndrome do excesso de treinamento, uma condição que afeta atletas e praticantes regulares de atividade física quando há desequilíbrio entre esforço e recuperação.
A boa notícia é que o overtraining pode ser prevenido com atenção, escuta corporal e planejamento. Entender os sinais é fundamental para manter o desempenho, a saúde e o prazer em treinar.
O que é overtraining?
O overtraining ocorre quando o corpo não tem tempo suficiente para se recuperar entre os treinos intensos. Em vez de evoluir, o desempenho despenca, e surgem sintomas físicos e emocionais.
De forma simples: você treina, o corpo se desgasta; descansa, ele se adapta e evolui. Mas quando o descanso não acontece, o corpo entra em colapso.
Segundo o American College of Sports Medicine (ACSM), o overtraining é caracterizado por uma combinação de fadiga persistente, queda de performance, distúrbios do sono, irritabilidade e aumento do risco de lesões.
Sinais de que você pode estar treinando demais
O corpo sempre dá sinais de alerta — basta saber ouvir.
Os principais sintomas de overtraining incluem:
- Fadiga constante, mesmo após descanso;
- Dores musculares que não passam;
- Irritabilidade, ansiedade ou desânimo;
- Insônia ou sono não reparador;
- Diminuição do apetite;
- Queda de desempenho físico;
- Aumento da frequência cardíaca em repouso;
- Maior propensão a gripes, resfriados e lesões.
Se você se identifica com vários desses sintomas, pode ser hora de repensar o ritmo de treinos.
Por que o descanso é parte do treino
Muitos encaram o descanso como “preguiça”, mas ele é uma etapa essencial da evolução física. É durante o repouso que o corpo reconstrói fibras musculares, reabastece energia e regula hormônios.
Quando treinamos, causamos microlesões nos músculos. Durante o descanso, o corpo repara essas lesões — e é nesse processo que ocorre o ganho de força e massa magra.
Ignorar esse ciclo cria um acúmulo de desgaste que, a longo prazo, leva ao catabolismo (perda de massa muscular) e à queda de desempenho.
A ciência mostra que o descanso adequado melhora a performance mais do que o treino contínuo. Um estudo publicado no Journal of Strength and Conditioning Research indica que períodos planejados de recuperação aumentam a força em até 20% e reduzem o risco de lesões.
Overtraining físico x overtraining emocional
O overtraining não é apenas um problema físico — ele também é emocional.
A pressão por resultados, a comparação com outros atletas e a busca pela perfeição criam um estresse psicológico que pode ser tão prejudicial quanto o esforço excessivo.
A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME) alerta que o aspecto mental deve ser monitorado com a mesma atenção que o físico. Irritabilidade, perda de motivação e apatia são sinais de que o corpo e a mente precisam de pausa.
Treinar deve ser um ato de prazer e autocuidado, não uma punição.
Fatores que aumentam o risco de overtraining
Alguns hábitos e circunstâncias podem potencializar o risco de desenvolver a síndrome:
- Falta de sono: o corpo se regenera durante o sono profundo. Dormir pouco impede essa recuperação.
- Alimentação inadequada: sem combustível suficiente, o corpo não suporta o ritmo de treinos.
- Treinos sem periodização: repetir a mesma intensidade e volume continuamente sobrecarrega músculos e articulações.
- Estresse crônico: o cortisol elevado aumenta a inflamação e dificulta a recuperação.
- Ausência de acompanhamento profissional: treinar sem orientação aumenta as chances de errar no volume e na intensidade.
Como prevenir o overtraining
A prevenção passa por autoconhecimento e equilíbrio.
Treinar com inteligência é muito mais eficaz do que treinar em excesso.
1.
Planeje seus treinos
Siga um programa estruturado, com variação de intensidade e descanso. A chamada periodização do treino permite alternar fases de carga e recuperação, evitando sobrecarga.
2.
Priorize o sono
O sono é o melhor “suplemento” natural. Dormir de 7 a 9 horas por noite melhora a regeneração muscular e regula os hormônios anabólicos.
3.
Alimente-se bem
Uma boa nutrição garante energia para o treino e para a recuperação. Inclua proteínas magras, carboidratos complexos, gorduras boas e micronutrientes antioxidantes.
Segundo o Journal of Sports Nutrition, uma dieta equilibrada reduz em 30% o risco de overtraining.
4.
Inclua dias de descanso ativo
Nem todo descanso precisa ser total. Caminhadas leves, alongamentos e yoga ajudam a relaxar sem interromper o movimento.
5.
Monitore seu corpo
Observe sua frequência cardíaca, disposição e humor. Se notar queda de rendimento persistente, reduza a carga.
6.
Cuide da mente
Meditação, respiração consciente e lazer são parte do treino. O equilíbrio mental é indispensável para o desempenho físico.
Overtraining em atletas x praticantes comuns
Embora o termo seja comum entre atletas de alto rendimento, o overtraining também atinge pessoas comuns — especialmente quem tenta “compensar” períodos parados com treinos intensos demais.
Em academias, é comum ver alunos treinando todos os dias, sem pausas e com pouca orientação. O resultado? Dor, exaustão e desmotivação.
A diferença é que o atleta tem acompanhamento multidisciplinar (treinador, nutricionista, fisiologista), enquanto o praticante recreativo muitas vezes age por conta própria.
Por isso, a autopercepção é ainda mais importante.
O papel da nutrição na recuperação
Sem nutrientes adequados, o corpo não consegue se recuperar.
Durante o treino, o glicogênio (reserva de energia) é consumido. Durante o descanso, ele precisa ser reposto.
Alimentos ricos em carboidratos complexos (como batata-doce, arroz integral e aveia) ajudam a restaurar energia. Já as proteínas (como ovos, frango e peixes) auxiliam na regeneração muscular.
Micronutrientes como magnésio, ferro, zinco e vitaminas do complexo B também são fundamentais para o metabolismo energético.
E claro: hidratação é indispensável — a desidratação intensifica a fadiga.
Quando o corpo pede pausa
Muitos têm medo de “perder resultados” ao descansar, mas a pausa faz parte do progresso.
A revista Sports Medicine mostrou que reduzir o volume de treino em até 40% por uma semana não prejudica a performance — pelo contrário, pode melhorar a potência muscular.
Se o corpo está pedindo descanso, respeite. Dormir um pouco mais, tirar um dia off ou trocar o treino por uma caminhada não é retrocesso: é inteligência corporal.
Conclusão
Treinar é sobre evolução, não exaustão. O corpo humano é incrível, mas precisa de equilíbrio entre estímulo e recuperação.
O overtraining não é sinal de força — é sinal de descuido.
Mais importante do que treinar todos os dias é treinar com propósito, respeitando o próprio ritmo.
O descanso, a alimentação e a mente são partes invisíveis do treino, mas sem eles, não há resultado duradouro.
Ouvir o corpo é o verdadeiro segredo de performance e longevidade. Afinal, o progresso só acontece quando há espaço para o corpo se reconstruir.
Referências
- American College of Sports Medicine (ACSM). Overtraining Syndrome and Recovery.
- Journal of Strength and Conditioning Research. Effects of Recovery on Performance.
- Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME). Síndrome do overtraining.
- Journal of Sports Nutrition. Dietary Influence on Training Fatigue.
- Sports Medicine Journal. Rest and Athletic Performance.

Farmacêutico
Licenciado em Farmácia pela Universidade Paulista – UNIP – 2018
Profissional com 14 anos de Experiência em Farmácia de Manipulação,
após formação atuante como Responsável Técnico, com Inscrição no Conselho Regional de Farmácia N.89527

 
																	 
																	